domingo, 8 de fevereiro de 2009

PEQUENO (NÃO) MANUAL DAS CHEGADAS E PARTIDAS




"esta vida é uma estranha hospedaria, onde se parte quase sempre às tontas. e nossas malas jamais estão prontas. e as nossas contas nunca estão em dia". Mário Quintana


As pessoas entram e saem da vida alheia sem qualquer coisa que sirva para tornar a entrada menos assustadora e a saída menos dolorosa. Às vezes chegam tão de repente que não dá tempo de pintar as unhas nem os olhos, nem de por o vestido ideal ou de dizer a coisa certa. Às vezes vão sem dizer adeus, ou porque não sabem fazer de outra forma ou porque o tempo é curto para as despedidas ou porque, vai saber, tem mesmo de ser assim.Se é verdade que o mundo anda em círculos - seriam ciclos? - os encontros e os desencontros são peças de uma engrenagem que o dono do universo manipula de acordo de acordo com o próprio humor - justiça divina? - e que nós, os mortais, Seus filhos (é o que dizem), recebemos com um frio na barriga no caso das chegadas e com um vazio no peito no caso das partidas.

Faz parte (clichê número um), e um pouco de açúcar, um pouco de álcool, um pouco de colo e um pouco de música ajudam a administrar a presença da melhor amiga da infância que propõe um reencontro milhões de (quase dez) anos depois, a ausência do sujeito que precisa achar a si mesmo do outro lado do mapa, a presença do sorriso irrecusável que aparece sem pedir licença (clichê número dois), a ausência dos que a gente sente saudade e não sabe o que dizer.

Assim e pronto, e nem mil ensaios, mil exemplos e mil teorias (clichê número três) seriam suficientes para disfarçar a vertigem na hora do "seja bem-vindo à minha vida" (depois dá ao menos para rir da própria inabilidade) ou se manter de pé quando chega o momento do "não quero mais a sua insensatez" (demora um pouco mais, é verdade, mas a gente acaba aprendendo a rir disso também).Com o tempo (clichê número quatro), a gente aprenda a relativizar o tempo e as escolhas, as conquistas e as perdas, os encontros e as despedidas. A vida, já dizia o grande Leminski, não tem cura (clichê número cinco, o último de hoje, palavra de honra), e muito menos cabe num pequeno manual das chegadas e partidas, este aqui, coitado, um não manual, pra dizer a verdade, de coisas que não tem saída.

Ana Laura Nahas

Um comentário:

  1. A vida nos presenteia a cada manhã, a cada segundo que respiramos e convivemos e melhoramos com as pessoas que hoje fazem parte desse precioso presente! Belo blog Lu!

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