segunda-feira, 28 de setembro de 2009

OFICINAS CRIATIVAS PARA EMPRESAS E EMPREENDEDORES


Encontrando saídas criativas,
com técnicas da ECOLOGIA INTERIOR,
onde cada um tem seu lugar adequado na empresa.
Seu lugar para o suce$$o.”


FAÇA UMA OFICINA DEMONSTRATIVA, SEM QUALQUER CUSTO,
E VEJA SOLUÇÕES PARA :

• encontrar o lugar adequado para cada um na empresa;

• combater o estresse e gerar atitudes saudáveis e de baixo custo;

  • perceber se a imagem que a empresa demonstra é fiel aos seus propósitos;

• reconhecer se há ruídos na comunicação e se estão ligados aos motivos que geram a falta de cooperação e de mais sucesso na empresa.


VOCÊ MERECE TER ESSE DIFERENCIAL

E NOS LHE MOSTRAREMOS COMO

ENTRE EM CONTATO:
(21) 4105-1951

domingo, 26 de abril de 2009

FELICIDADE INTERNA BRUTA


Em abril de 1986, a frase, com estas exatas palavras: “Felicidade Interna Bruta é mais importante do que Produto Interno Bruto” foi cunhada por Sua Majestade o 4º Rei do Butão, que é o autor do conceito do FIB. O que ele disse, nos anos 1970 e 1980, quanto ao PIB ser canalizado na direção da felicidade, foi algo bastante inédito, senão revolucionário. Agora, 20 a 30 anos depois, as opiniões ao redor do mundo estão começando a convergir no sentido de tornar a felicidade uma meta sócio-econômica coletiva.


POR QUÊ O PIB É INADEQUADO PARA MEDIR O BEM-ESTAR?
Em primeiro lugar, vamos assinalar que o PIB é parte integrante do FIB, uma vez que o crescimento econômico de fato promove o bem-estar e a felicidade dos mais pobres. Todavia, diversas deficiências do PIB também precisam ser reconhecidas.

Falta de distinções de natureza qualitativa
Existem muitos modos de se atingir o mesmo nível de PIB, que por si só não se importa, ou registra, se a riqueza foi gerada através de prostituição ou de meditação, ou mesmo se foi obtida se maneira estressante ou prazerosa.

Propensão ao Consumo
O PIB é uma acurada métrica para se determinar tudo aquilo que é produzido e consumido através de transações monetárias. Entretanto, se algum bem for deliberadamente conservado e não consumido, então esse bem deixa de ser registrado como um valor. Como resultado disso, existe uma tremenda inclinação voltada ao consumo na adoção do PIB. Um trator que está simplesmente largado numa fazenda é contabilizado como uma riqueza, e certamente que um tigre numa floresta deve ter mais valor do que um trator, porém, sob a ótica do PIB, não é isso que ocorre. Este mede muito bem o capital produzido, mas não mede outras formas de capital e serviços, tais como aqueles providos pelo meio ambiente, humanos e sociais.

Sub-valoriza tempo livre e trabalho não remunerado
O PIB não mede o tempo livre e nem tampouco o trabalho voluntário, não remunerado, revelando um sério preconceito contra trabalho voluntário e lazer. Todavia, o trabalho não remunerado e voluntário contribui para a felicidade e o bem-estar. Cuidar de crianças e idosos, bem como o trabalho doméstico, são serviços não remunerados que se dão à margem das transações do mercado. Essas atividades não estão precificadas, e são executadas por aqueles cuja motivação está acima do ganho financeiro.

Justiça Econômica
Embora a desigualdade possa ser medida separadamente por um índice específico para esse fim, o PIB em si é cego para a injustiça econômica. Durante o nosso consumo de bens e serviços, a métrica daquilo que nos proporciona felicidade é relativa, em comparação àquilo que os outros estão consumindo. Se a comparação afeta o nosso bem-estar subjetivo, a desigualdade continuará a ter um poderoso efeito negativo na felicidade enquanto uma desigual distribuição da riqueza persistir. Sempre haverá alguém acima na escada, e um modo de se neutralizar esse efeito negativo é de se atingir um alto grau de igualdade.


Importância dos serviços pós-materiais.
Uma vez que um certo nível de riqueza foi alçanda, como por exemplo, na Europa e no Japão, o objetivo das pessoas não são bens, mas em vez disso aquilo que está se chamando de “serviços pós-materiais que transcendem os bens”. Um aumento desses serviços está mais provavelmente influenciado pelo imaterial, que vem de fatores como família, amigos, segurança, redes sociais, liberdade, criatividade, significado para a vida e assim por diante. Esses benefícios das sociedades pós-industriais não necessariamente aumentam com a renda.

O QUE É FELICIDADE?

Bem público, porém subjetivamente sentido
A felicidade é, e deve ser, um bem público, já que todos os seres humanos almejam-na. Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados. Se o planejamento governamental, e portanto as condições macro-econômicas da nação, forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem sucedidos.

A política pública é necessária para educar os cidadãos sobre a felicidade coletiva. As pessoas podem fazer escolhas erradas, que por sua vez podem desviá-las da felicidade. Planejamentos de política pública corretos podem lidar com tais problemas, e reduzi-los, impedindo assim que ocorram em larga escala.

Felicidade baseada em estímulos externos
Nossa compreensão de como a mente obtém felicidade afeta a nossa experiência com a mesma, ao influir nos meios que escolhemos para a sua busca. Em alguns ramos das ciências comportamentais, a mente é concebida como um aparato de entrada-saída, que responde apenas aos estímulos externos. Uma conseqüência deste modelo é que as sensações prazerosas e de felicidade são vistas como dependentes somente em estímulos externos. Felicidade é percebida como uma conseqüência direta dos prazeres sensoriais. Com tal excessiva ênfase nos estímulos externos como a fonte de felicidade, não é de se surpreender que os indivíduos sejam levados a acreditar que, ao serem materialistas, serão mais felizes.

Métodos de contemplação interior
Mas existe uma tradição que aponta um caminho oposto à busca da felicidade baseada em estímulos externos, e que mostra que sensações prazerosas serão geradas ao se bloquear a entrada dos estímulos sensoriais externos e calando-se o palavrório mental. Isso requer a prática regular de técnicas de meditação, através das quais o indivíduo experiencia o sujeito em si, em vez do sujeito experienciar os estímulos externos.

Ao se utilizar um método contemplativo, não há nada externo que possa se constituir num insumo para felicidade. Desde que seja praticada de forma disciplinada e regular, a meditação pode levar à mudanças na estrutura mental (nas redes neurais), fazendo com que a calma e o contentamento sejam traços perenes da personalidade. Em outras palavras, as faculdades mentais podem ser treinadas em direção à felicidade.

Quando essa visão é aplicada, economias atualmente consideradas estacionárias, estáveis e sustentáveis, podem ser consideradas bem sucedidas. Uma economia cujo PIB cresce continuamente, a uma taxa ambientalmente insustentável, pode ser vista como um fracasso, devido à sua incapacidade de promover o desapego da proliferação de desejos. Em função disso, as pessoas são levadas de roldão no processo. Uma economia estacionária pode sinalizar que estabilidade psicológica quanto aos desejos foi alcançada entre os consumidores.


INDICADORES E MENSURAÇÃO DO FIB

O Governo Real do Butão está formulando índices para o FIB, que irão avaliar, rastrear e guiar o planejamento do desenvolvimento do nosso país. Os índices FIB de nível macro podem ser sub-divididos em numerosos sub-indicadores que são úteis em diversos fatores.

Além disso, o Butão desenvolveu uma estrutura qualitativa conhecida como “lentes de FIB” para políticas e programas que têm por finalidade filtrar atividades segundo o ponto de vista do FIB.

Para se considerar um indicador como sendo válido segundo o FIB, ele deve demonstravelmente ter influência positiva ou negativa na felicidade. E os indicadores de FIB devem cobrir tanto as esferas objetivas quanto as subjetivas das dimensões do FIB, conferindo pesos idênticos tanto para os aspectos funcionais da sociedade humana como para o lado emocional da existência da mesma. A voz subjetiva, que tem sido relativamente sufocada nas ciências sociais como um todo, e nos indicadores em particular, está sendo restaurada nos indicadores do FIB, e isso está produzindo uma equilibrada representação de dados entre o objetivo e o subjetivo. Obviamente que a distinção entre o subjetivo e o objetivo não representa, em qualquer sentido fundamental, aquilo que é básico para natureza da realidade, que é na verdade o inter-relacionamento de ambos.

De uma forma mais geral, a descrição dos indicadores para o FIB pode ser expressa usando um ícone tradicional, a roda. No centro da roda se situa o cubo da mesma. Similarmente, a meta última do FIB é o bem-estar, a felicidade e a satisfação com a vida, aquilo que é o verdadeiro potencial na sociedade humana que buscamos atingir.

Os meios para se atingir essa meta são os raios da roda. No caso do FIB, esses raios representam os domínios, tais como o raio da educação, o raio da boa saúde, o raio do uso equilibrado do tempo, o raio da cultura, o raio da boa governança, o raio da vitalidade comunitária, o raio da resiliência ecológica, e o raio do componente material da existência – o padrão de vida.


PSICOLÓGICO
O domínio do bem estar psicológico abrange o contentamento, a satisfação com todos os elementos da vida, e a saúde mental. Uma vez que felicidade coletiva é a meta principal sob uma sociedade baseada no FIB, o bem estar psicológico é de primordial importância para medir o sucesso do estado em prover as políticas e os serviços apropriados. Entre inúmeros indicadores, a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, o estresse, as atividades espirituais, o desfrute da vida, a satisfação com a vida, a auto-avaliação da saúde – seja física quanto mental – são calculados na população.

USO DO TEMPO
Tem se demonstrado que o domínio do uso do tempo é uma das mais eficazes janelas para qualidade de vida, uma vez que ele analisa a natureza do tempo que é despendido num período de 24 horas, bem como as atividades que tomam períodos de tempo mais longos. Uma importante função do uso do tempo é reconhecer o valor do lazer. Os laços sociais criados e compartilhados na socialização com a família e com os amigos contribuem significativamente para todos os níveis de felicidade e contentamento numa sociedade.

SAÚDE
Os indicadores de saúde avaliam o status de saúde da população, os fatores determinantes da saúde e o sistema de saúde em si. Os indicadores de status de saúde incluem a auto-avaliação da saúde, invalidez, as limitações para atividades e a taxa de dias saudáveis. Os indicadores dos fatores determinantes de saúde incluem padrões de comportamento arriscados, exposição a condições de risco, status nutricional, práticas de amamentação e condições de higiene. O sistema de saúde, que incluí tanto o sistema ocidental quanto o nativo, é medido a partir do ponto de vista da satisfação do usuário em diversas dimensões, tais como amabilidade do provedor, competência, tempo de espera, custo, distância etc.

EDUCAÇÃO
A educação contribui para o conhecimento, valores, criatividade, competências, capital humano e sensibilidade cívica dos cidadãos. Um domínio tal como o da educação não tem por objetivo meramente medir o sucesso da educação per se, e sim tentar avaliar a eficácia da educação quanto a se trabalhar em prol da meta do bem estar coletivo. O domínio da educação leva em conta vários fatores, tais como: participação, competências e apoio educacional, entre outros. Esse domínio inclui no seu escopo a educação informal (competências nativas, técnicas tradicionais orgânicas de agricultura e pecuária, remédios caseiros, genealogias familiares, conhecimento sobre a cultura e história locais), e educação monástica.

DIVERSIDADE E RESILIÊNCIA CULTURAL
A manutenção das nossas tradições culturais é uma das fundamentais metas de política pública do nosso país, já que reconhecemos o valor das tradições da diversidade cultural na formação da identidade, nos valores e na base criativa para o nosso futuro. O domínio da cultura leva em conta a diversidade e o número de instalações culturais, padrões de uso e diversidade no idioma e participação religiosa. Os indicadores estimam valores nucleares, costumes locais e tradições, bem como a percepção de mudanças em valores e tradições.

BOA GOVERNANÇA
O domínio da governança avalia como que as pessoas percebem várias funções governamentais em termos da sua eficácia, honestidade e qualidade. Os temas desses indicadores incluem liderança em vários níveis do governo, na mídia, no judiciário, na polícia e nas eleições.

VITALIDADE COMUNITÁRIA
O domínio da vitalidade comunitária foca nas forças e nas fraquezas dos relacionamentos e das interações nas comunidades. Ele examina a natureza da confiança, da sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado. Esses indicadores possibilitarão aos formuladores de política pública rastrear as mudanças nos efeitos adversos para a vitalidade comunitária.

DIVERSIDADE E RESILIÊNCIA ECOLÓGICA
Ao focar no estado dos nossos recursos naturais, nas pressões sobre os nossos ecossistemas, e nas diferentes respostas de gestões, o domínio da diversidade e resiliência ecológica descreve o impacto do suprimento doméstico e a demanda nos ecossistemas do Butão.

domingo, 15 de março de 2009

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL



por Frei Betto


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?"



Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não, tenho aula à tarde". Comemorei: "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde". "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..." "Que tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: "Que pena, a Daniela não disse "tenho aula de meditação"!



Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso, as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!



Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto"? "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite"! Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?



Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra!



Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais.



A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.



Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los aonde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.



Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...



Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…



Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".



Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros.

Paciência, segundo Dalai Lama

...para praticar a paciência é preciso que todos os dias tentem tirá-la de você...

A linguagem do sentimento. A linguagem do coração



Sentir é a comunhão. Sentir, pOr cá para fora uma nova linguagem, muito mais inteligente e lógica, saudável e autêntica. A linguagem do sentimento. A linguagem do coração. O vosso coração tem ligação directa com a vossa alma.E a vossa alma sabe tudo, absolutamente tudo acerca das vossas vidas: das passadas, da presente e das futuras. O coração, o que vocês sentem, é uma espécie de código em que a alma se comunica. Nem sempre lógico, nem sempre inteligível. Muitas vezes doloroso e brutal, mas sempre, sempre correcto.O coração não vos leva para becos sem saída, para buracos negros energéticos. Pelo simples facto de o coração vibrar pelo amor incondicional e a mente vibrar pelo medo, só esse facto já poderia significar a importância do coração, do que sentem face a tudo o resto.O que fazer com a inteligência? Acalmem-na. Mostrem que não é a única, mostrem-lhe que tem um parceiro e que tem de se relacionar com o que sente. A inteligência aliada ao coração provoca a harmonia dos dois maiores opostos da matéria. Mente e coração. Só.
Alexandra Solnado (Portugal)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

TEMOS ARTE PARA QUE A REALIDADE NÃO NOS MATE




"A arte-terapia é um instrumento de interpretação", diz a psicóloga Morgana Masetti, integrante do grupo "Doutores da Alegria", que atua no Instituto da Criança da USP (Universidade de São Paulo), na capital.Para Morgana, o trabalho do "Doutores" não é arte-terapia. "Nosso objetivo não é terapêutico, mas tem como consequência a terapia. Isso é importante para o meio hospitalar", afirma a psicóloga, que pesquisa como a arte pode influenciar no tratamento.Ela defende que a introdução da arte possa mudar o modelo médico atual, centrado na técnica e que deixa de lado a relação humana com o paciente. "O médico se preocupa somente com o prognóstico, quando o paciente vai morrer, e deixa de se importar com ele quando descobre isso. O artista não pensa assim, e por isso um espetáculo ajuda."É o que pensa também a alergista e imunologista Cristina Miuki Abe Jacob, 47, responsável pela unidade de imunologia do Instituto da Criança de São Paulo. "Os 'Doutores da Alegria' são facilitadores do trabalho médico. Há crianças que não querem ser examinadas porque têm medo dos médicos." Segundo ela, trabalhos de arte tornam o hospital menos agressivo para os pacientes.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

PEQUENO (NÃO) MANUAL DAS CHEGADAS E PARTIDAS




"esta vida é uma estranha hospedaria, onde se parte quase sempre às tontas. e nossas malas jamais estão prontas. e as nossas contas nunca estão em dia". Mário Quintana


As pessoas entram e saem da vida alheia sem qualquer coisa que sirva para tornar a entrada menos assustadora e a saída menos dolorosa. Às vezes chegam tão de repente que não dá tempo de pintar as unhas nem os olhos, nem de por o vestido ideal ou de dizer a coisa certa. Às vezes vão sem dizer adeus, ou porque não sabem fazer de outra forma ou porque o tempo é curto para as despedidas ou porque, vai saber, tem mesmo de ser assim.Se é verdade que o mundo anda em círculos - seriam ciclos? - os encontros e os desencontros são peças de uma engrenagem que o dono do universo manipula de acordo de acordo com o próprio humor - justiça divina? - e que nós, os mortais, Seus filhos (é o que dizem), recebemos com um frio na barriga no caso das chegadas e com um vazio no peito no caso das partidas.

Faz parte (clichê número um), e um pouco de açúcar, um pouco de álcool, um pouco de colo e um pouco de música ajudam a administrar a presença da melhor amiga da infância que propõe um reencontro milhões de (quase dez) anos depois, a ausência do sujeito que precisa achar a si mesmo do outro lado do mapa, a presença do sorriso irrecusável que aparece sem pedir licença (clichê número dois), a ausência dos que a gente sente saudade e não sabe o que dizer.

Assim e pronto, e nem mil ensaios, mil exemplos e mil teorias (clichê número três) seriam suficientes para disfarçar a vertigem na hora do "seja bem-vindo à minha vida" (depois dá ao menos para rir da própria inabilidade) ou se manter de pé quando chega o momento do "não quero mais a sua insensatez" (demora um pouco mais, é verdade, mas a gente acaba aprendendo a rir disso também).Com o tempo (clichê número quatro), a gente aprenda a relativizar o tempo e as escolhas, as conquistas e as perdas, os encontros e as despedidas. A vida, já dizia o grande Leminski, não tem cura (clichê número cinco, o último de hoje, palavra de honra), e muito menos cabe num pequeno manual das chegadas e partidas, este aqui, coitado, um não manual, pra dizer a verdade, de coisas que não tem saída.

Ana Laura Nahas

Poesia

“Para estar em Deus, há que se provar pelo tato o rancor dos temporais, a calma gentil dos regatos, o segredo das grutas e das ribanceiras”. Rumi

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Histórias Que Ficam Fora do Divã




Era a primeira vez, depois da separação, que iria ao cinema sozinha. No início, achei a idéia libertadora mas, um segundo depois, humilhante. Como me comportaria na fila quando um casal de namorados ficasse se agarrando? Beijinhos para cá, risadinhas para lá? Adolescentes, então, não param de beijar e dizer coisas no ouvido um do outro. Irritante, pensei com um certo desdém e inveja, claro. E como devo me comportar para evitar o encontro de olhares, que alguns homens acompanhados, lançam às mulheres que estão sozinhas? Pior ainda, é aguentar a olhadela desconfiada, de cima a baixo, de algumas mulheres que ficam alertas ao menor desvio de olhar de seus acompanhantes para mim? Pretenciosa. Não. Eu também era assim. Eu bem que me esforçava para ser natural e evitar de fixar o olhar em alguém. Pensava no que elas deviam estar pensando de mim. Na certa, uma , uma mulher desacompanhada na fila do cinema: ou está esperando o namorado ou quer encontrar algum.
Disfarçava olhando para o meu telefone celular quem sabe eu receberia uma ligação ou mensagem que mostrasse que alguém liga para mim. Essa ilusão me salvava do mal estar de estar sozinha numa fila que parece feita para os pares ou pais acompanhando filhos. Pode parecer rídiculo, ficar assim por causa de um simples cineminha. Mas, assim é se lhe parece e o preconceito parte normalmente de quem se preocupa com o tema. Na certa ninguém devia estar me notando. Só eu mesma e minhas cismas. Mas como uma boa leonina, sempre achava que alguém estava prestando atenção em mim. Para o bem ou para o mal. E agora nesta fila, desacompanhada, imaginava que todas as mulheres desconfiavam de mim. Teve um momento que fiquei orgulhosa com a minha coragem e audácia de estar sendo a outra que sempre me importunou e alimentou minhas fantasias de estar sendo traída. Nada me irritava mais do que dar de cara com uma mulher livre e desempedida na frente de meu homem. Achava-as umas exibidas e provocadoras. Ao mesmo tempo, sentia uma certa dose de prazer por serem incapazes de manter alguém do seu lado. Afinal eu estava com alguém e elas não, concluia com orgulho.
Agora, na fila sozinha, eu era elas. E sentia na pele o peso do meu preconceito e julgamentos que só serviram de alimento para o cão de duas cabeças que ficava na porta do pequeno-mundo-de-Gisele. Aquilo que não era espelho, se tornava uma ameaça para mim e meu cão faminto. Quando saía com Jaime, o meu ex-marido, as cenas de ciúme aconteciam de uma hora para outra. Até nos passeios despretenciosos, como uma ida à padaria, por exemplo, rolava um estresse. Como uma detetive, seguia a direção de seus olhos; tentava interpretar o por quê de um suspiro mais longo. Quando ele apertava os lábios ou levantava as sobrancelhas, interpretava a cena como uma tentativa de traição. Nem vendo sessão da tarde, em casa, deitada no sofá com ele, eu relaxava. Ficava sempre atenta: no que será que ele está pensando? E vivia reclamando da sua insensibilidade. Quebrei todas as xícaras de café quando, certa vez, pintei as unhas de vermelho paixão, igual as da minha amiga Camila que ele tanto elogiou tanto, e as minhas ele nem reparou. Imitava a cena do filme Tomates Verdes Fritos quando a personagem quebrava uma xícara toda vez que via o marido saindo com sua amiga. Os cacos eram então colados na parede, formando uma espécie de mosaico que lembrava o quanto se sentia partida por dentro. Eu só quebrava as xícaras.
Hoje, admito que era uma forma muito cansativa de me relacionar. E reconheço que devia ser muito difícil estar com alguém assim. Dizem que as pessoas que têm ciúmes não querem manter a relação. Pode ser, mas eu bem que tentei mudar. Li várias biografias de mulheres ricas e famosas mas-que-foram- infelizes-no-amor para aprender a não fazer o que elas fizeram. Ou seja, evitar cometer os mesmos erros nas relações amorosas. Mas acho que só aprimorei minha técnica de sufocar o outro. Meus sentidos só tinham olhos para os fatos que fizeram a relação das donas virarem um inferno.
Minha amiga Clara, assistente social de um grande hospital, disse que minha intenção era de apenas encontrar aliadas. Parceiras. E assim justificar meu comportamento. Ela dizia que eu fazia cenas de ciúme porque queria mais emoção na relação. “Quem gosta, sossega”, afirmava Clara. É, pode ser.
Mas nem imaginava que um dia ele se cansaria. Pior ainda, que ligaria de sua viagem a trabalho dizendo, simplesmente, que acabou.
- Gisele, fico por aqui.
Terminar por telefone é muita canalhice. Eu não merecia, pensei. Por que não disse olhando nos meus olhos? Tive raiva, muita raiva. Durante um mês tive vontade de esfolá-lo vivo. Enquanto tinha raiva me movimentava, fazia coisas, encontrava amigas... Mas ruim mesmo foi quando a saudade se instalou. Meus dias já nasciam cansados, arrastados. Percebi o quanto estava ausente de mim e viciada em nós. Queria sentir o seu cheiro, acompanhar seu olhar. Saber se ele havia terminado de ler o livro de Júlio Cortázar sobre personagens do cinema. Se a sua alergia a camarão havia melhorado. Se as cuecas estavam com elástico e as meias sem pelos.
Por dias recapitulava o que teria acontecido na manhã que ele viajou. Por mais que pensasse não encontrei nada que pudesse provocar o rompimento. Achei que estava bem. Deve ter sido aquilo que dizem sobre a melhora da morte. Pode ser. Já havíamos ficado quase um mês longe mas havia o amanhã. Até que de repente o telefone me tira as horas e faz com que os dias fiquem mais compridos.
O tempo é cruel com a saudade. Tentei me reaproximar. Mostrar que havia mudado. Estava mais segura. Ciúmes era coisa do passado. Quem sabe, disse ele. Acho que foi só por carinho. Chorei à beça. Mas pode ter certeza que chega uma hora que a gente se cansa de sofrer ou de tentar achar explicações. Foi-se. Paciência.
Há Gisele, por que ir ao cinema? Justo no meu primeiro fim de semana que decido me ver solteira? Melhor seria ter ido a uma livraria. Ninguém te olha. Pelo contrário, é comum até levar esbarrões e topadas de gente que anda com a cabeça colada nas orelhas do livro. Beijos e abraços? Nunca vi. Cenas de romance, ciúmes, separações, brigas, reconciliações? Essas são reservadas aos atores dos livros. Como esses personagens são sortudos, pensava. Pelo menos, eles têm a proteção das capas e contracapas. Gostaria de ter esta opção. Escondida entre as páginas viveria minhas mazelas. Tendo apenas o olhar singular de um leitor como testemunha, um por vez. E não tantos olhares. Como acontece em filas, principalmente nos cinemas que agora, para expor ainda mais,têm caixas comum para todos os filmes. Mesmo que eu prefira o de pequena bilheteria, o tempo de espera é o mesmo dos filmes indicados ao Oscar.
Saco. Estava quase desistindo. Devia ter vindo numa segunda-feira. Entraria direto na sala de cinema, calculei. Depois de algum tempo de espera, me desliguei de mim e dos meus medos e percebi que estava mais tranquila. Naturalizei os olhares e a solidão. Lembrei que era um sábado à noite. E como diz a música: tudo pode acontecer. Foi então que senti uma mão no meu ombro. Tive uma espécie de arrepio na boca do estômago. Conhecia aquele toque. Me virei e era o Jaime me devolvendo o livro do Cortázar. Fazia cinco meses que a gente não se via. Dessa vez não vigiei seu olhar e nem tentei invadir seus pensamentos. Lembrei do trecho de uma biografia de mulheres ricas e famosas mas-que-foram- infelizes-no-amor onde alertava: só fica acompanhada quem se enamora de si mesmo. Fiquei sossegada. Prestei atenção no meu coração e ele estava feliz. Lu Fernandhes